Monday, March 10, 2008

Sobre o filme "A alma do osso"

Ermitão, segundo o dicíonário, é a pessoa que vive no ermo, solitário. Dominguinhos da Pedra, personagem do documentário “A alma do Osso” vive solitário numa caverna do interior de Minas Gerais. Por isso, pode ser considerado um ermitão.

O documentário de Cao Guimarães, logicamente, fala da solidão. Vem a desvendar a verdadeira faceta de alguém que escolhe ou é levado a viver só. A história de Dominguinhos, retratada primeiramente por imagens em super 8, repleta de texturização, coloca em imagem e movimento os delírios onde está contida as indagações, medos, sonhos do personagem.

O corpo de Dominguinhos fala.. Seus pés, unhas, postura, ações lentas dentro da pequena caverna, contam a história de Dominguinhos. Em um primeiro momento (e talvez também em um segundo) não são necessárias palavras. A paisagem local e o cenário de vida daquele ermitão são partes dos membros que compõe o homem Dominguinhos.

Cao parece testar o espectador, apresentando o personagem nos 15 minutos iniciais através do ritual do café da manhã. Ali, o diretor oferece elementos para formular um porquê de se viver assim. Talvez a frase de Guimarães Rosa “Solidão é gente demais”, pode ajudar a pensar que Dominguinhos poderia ser um homem com aversão à pessoas. Porém, seja lá qual for a idéia que se tenha no final daqueles 15 minutos silenciosos do documentário, esta é quebrada com a confirmação de que o personagem é na verdade, uma apreciador de uma boa prosa, de um bom bate papo.

Dominguinhos tem medo. E confessa aos turistas visitantes seus medos através da história do homem que mataram sua carne, mas não seus ossos e que por isso, não morreu e sobre a luz do corisco. Os turistas, atrás da cerca, observam, escutam as palavras balbuciadas pelo velho homem e depois se vão. Dominguinhos confessa no olhar sua solidão. Ele é “A alma do osso”, não só pelo seu corpo magro, mas pela vida de quem tem sua carne ignorada pela comunidade como morta, mas que mantêm seus ossos vivos: Dominguinhos não morreu.

*Texto elaborado a partir de decupagem feita em classe, pelo diretor Marcelo Gomes e de algumas tantas idéias e opiniões minhas.

A alma do Osso. Cao Guimarães. 2004. 74min.Vencedor do prêmio de melhor filme nacional e estrangeiro do Festival "É tudo verdade" em 2004. Infelizmente, inédito nos cinemas do país,

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