Friday, March 21, 2008

Sobre cinema, debates e conversas

Pelo menos duas frases interessantes que ouvi essa semana:
***********************************************“O bom do cinema é que nele você pode fazer o que quiser”
Frase do filme Baixio das bestas, repetida pelo seu autor (e diretor do filme) Cláudio Assis, em debate nEspaço Cultral CPFL.
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“Eu fiz cinema, C.petit !!! Ele está gravado minha cabeça. Talvez um dia eu faça filme, mas cinema eu já faço!”
Frase de um certo rapaz muito (mas muito) especial durante conversa pelo telefone.

Thursday, March 13, 2008

Sobre sabedoria popular brasileira

Chuva, congestionamento na Av. Brasil, ônibus lotado.

Motorista fala para os passageiros que estão lá na frente:

- Êh chuvão..Quando eu era pequeno, minha mãe não deixava eu brincar na chuva. Ela dizia que era perigoso, pois se aparecesse um arco-íris, eu poderia passar embaixo e virar mulher. Homem virava mulher, mulher virava homem. Eu tinha medo. Saudade de minha mãe...

Ele pensa um pouco e continua...

- Se bem que hoje, se contassem essa história ninguém teria medo. Tem mulher que é homem, homem que é mulher. Sei lá...Talvez esse povo doido são os que passaram por baixo do arco-íris...

O ônibus caiu na risada. E seguimos viagem...

Engraçado, como tem gente que não consegue notar o valor e a riqueza de um bate papo, de um causo que escutamos por aí...

Eu faço questão de ficar com os ouvidos bem abertos pra eles. Adoro

Monday, March 10, 2008

Sobre o filme "A alma do osso"

Ermitão, segundo o dicíonário, é a pessoa que vive no ermo, solitário. Dominguinhos da Pedra, personagem do documentário “A alma do Osso” vive solitário numa caverna do interior de Minas Gerais. Por isso, pode ser considerado um ermitão.

O documentário de Cao Guimarães, logicamente, fala da solidão. Vem a desvendar a verdadeira faceta de alguém que escolhe ou é levado a viver só. A história de Dominguinhos, retratada primeiramente por imagens em super 8, repleta de texturização, coloca em imagem e movimento os delírios onde está contida as indagações, medos, sonhos do personagem.

O corpo de Dominguinhos fala.. Seus pés, unhas, postura, ações lentas dentro da pequena caverna, contam a história de Dominguinhos. Em um primeiro momento (e talvez também em um segundo) não são necessárias palavras. A paisagem local e o cenário de vida daquele ermitão são partes dos membros que compõe o homem Dominguinhos.

Cao parece testar o espectador, apresentando o personagem nos 15 minutos iniciais através do ritual do café da manhã. Ali, o diretor oferece elementos para formular um porquê de se viver assim. Talvez a frase de Guimarães Rosa “Solidão é gente demais”, pode ajudar a pensar que Dominguinhos poderia ser um homem com aversão à pessoas. Porém, seja lá qual for a idéia que se tenha no final daqueles 15 minutos silenciosos do documentário, esta é quebrada com a confirmação de que o personagem é na verdade, uma apreciador de uma boa prosa, de um bom bate papo.

Dominguinhos tem medo. E confessa aos turistas visitantes seus medos através da história do homem que mataram sua carne, mas não seus ossos e que por isso, não morreu e sobre a luz do corisco. Os turistas, atrás da cerca, observam, escutam as palavras balbuciadas pelo velho homem e depois se vão. Dominguinhos confessa no olhar sua solidão. Ele é “A alma do osso”, não só pelo seu corpo magro, mas pela vida de quem tem sua carne ignorada pela comunidade como morta, mas que mantêm seus ossos vivos: Dominguinhos não morreu.

*Texto elaborado a partir de decupagem feita em classe, pelo diretor Marcelo Gomes e de algumas tantas idéias e opiniões minhas.

A alma do Osso. Cao Guimarães. 2004. 74min.Vencedor do prêmio de melhor filme nacional e estrangeiro do Festival "É tudo verdade" em 2004. Infelizmente, inédito nos cinemas do país,