Monday, April 23, 2007

Sobre a minha capacidade de ser toltalmente transparente

O Mensageiro
Aquele ônibus 3.29 pedia a ruguinha típica no meu queixo. Aquela que teima aparecer logo abaixo do lábio anunciando que meus olhos irão receber como visita um líquido transparente e salgado.
Quem veio me visitar? Ah, era o mensageiro do coração. Veio com um recadinho de que aquele que pulsa musicalmente, de acordo com o rítmo da vida, pedia trégua. O tal líquido se mostrava insistente, desavergonhado e quente. Quase na temperatura do sol que queimava meu rosto na janela.
Ah, aquele responsável em enviar o líquido vermelho pelo meu corpo, estava cansado, indignado com a falta de tempo, com a incompreensão, com as cobranças, com a dor em todo o corpo, com falta de reconhecimento, com a infecção, com a mesquinharia, com os más vibrações, com a humilhação, com a falta de compreensão dele próprio com o mundo. Estaria ele errado? Estaria correndo na direção contrária?
Ele queria parar um segundo. Um segundo que durasse horas e horas, de modo que ele levitasse, meditasse, se desprendesse de todo esse peso. Ele queria parar, com o direito de voltar, sem más consequências.
Alguns minutos durou esse recado.
Sequei os olhos, levantei a cabeça. Dei o sinal para descer.
O coração está bem, está melhor. Foi a última coisa que o mensageiro disse.

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